16 de setembro. Já com a pousada reservada, partimos, eu e minha namorada, rumo
à Ilha do Mel. Uma novidade para mim e uma nova experiência para ela, que já
havia visitado o local outras vezes há alguns anos. Nosso destino, após uma
medição de prós e contras pesquisando e ouvindo uns amigos, foi Encantadas, um
dos três bairros da Ilha, magnífico em todos os quesitos!
Existem barcos diretos da parte continental de Paranaguá para a Ilha. Mas levam
cerca de 1h30min e os horários são bastante escassos fora da alta temporada.
Nisso, a melhor opção é se dirigir ao município de Pontal do Paraná, mais
precisamente em Pontal do Sul, onde as saídas são regulares, de hora em hora. O
preço da travessia é inferior a 30 reais, já se referindo a ida e volta (não dá
para comprar um trecho só, e o bilhete tem validade de 20 dias para retorno).
Como na Ilha do Mel não existem automóveis, deixamos nosso carro no
estacionamento da Pousada Estrela do Mar, onde ficamos hospedados. A vaga já
estava incluída no pacote e contou até com um motorista para nos levar da
garagem ao trapiche de embarque para a Ilha.
Como não poderíamos deixar de fazer, cantamos um pouco do
reggae "Barca Para a Ilha", da banda Djambi, durante a travessia, que
durou pouco mais de 20 minutos.
Chegando ao trapiche de Encantadas, pedimos informação ao Barba, um nômade
figuraça que fazia tarrafas, sobre onde seria nossa pousada. Para lá fomos,
deixamos o excesso das mochilas e fomos aproveitar a tardinha.
O primeiro banho de mar, claro, foi na Praia de Encantadas, a orla do trapiche
e a praia mais agitada do bairro. As águas são da baía de Paranaguá, logo as
ondas não existem. Perfeita para um banho mais tranquilo e para levar as
crianças (no entanto, em baixa temporada, não vimos muitas. A Ilha do Mel
parecia restrita a casais).
Exploramos a Praia de Encantadas até uma trilha quase fechada em seu término,
que depois fui saber que dava para um farol. Como minha namorada não é muito fã
de mata fechada, tentamos fazer um registro em meio aos pequenos (mas vários)
peixes que tinham por ali. Não conseguimos devido às limitações das nossas
humildes câmeras, mas valeram as tentativas...
Nossa primeira trilha teve como destino um morro que deu para uma "praia
de pedras". Começamos a driblá-las e avançar para ver onde dariam, com a
Débora me surpreendendo ao ser bem rápida. Porém, ao atravessarmos uma parede
rochosa, notamos que havia muito ainda a se percorrer sobre as rochas. E, com a
maré subindo, fomos aconselhados por um guarda ambiental que estava por ali a
retornar.
De volta à Praia de Encantadas, caçamos outra trilha. E fomos rumo à Gruta de
Encantadas, essa caverna maravilhosa que vocês verão logo abaixo. Descobrimos,
aliás, que lá seria o nosso destino se conseguíssemos avançar via pedras na
outra trilha. Um local que traz uma paz de espírito maravilhosa, e que conta
até com uma passarela de madeira para permitir o acesso a qualquer pessoa. Para
quem é católico, aliás, vale até rezar de frente a uma pequena imagem de Nossa
Senhora que habita a gruta.
De lá, fomos à Praia da Boia, que fica ao lado. Ali já são águas de mar aberto,
com placa alertando o perigo de correnteza e ondas boas para surfistas. Não
faço parte do grupo que sabe ficar em pé na prancha, mas fiz questão de dar um
mergulho revigorante.
O primeiro dia de exploração terminou na Pousada Ilha do Mel com uma janta de
frente para o pôr do Sol. Nosso cardápio foi risoto de frutos do mar
acompanhado da melancia atômica, uma bebida típica que mistura suco de
melancia, vodka e leite condensado, sendo servida na própria fruta (dá cerca de
5l e normalmente serve quatro pessoas ou mais, mas fomos guerreiros e a matamos
sozinhos). O restaurante tem uma boa variedade de refeições e o atendimento é
muito bom. Recomendadíssimo!
Já na quarta-feira, dia 17, nossa primeira manhã na ilha se iniciou com um
simples, mas saborosíssimo café-da-manhã da pousada, na qual pudemos conversar
melhor com os atendentes que foram bastante simpáticos desde a nossa chegada.
Ao pôr os pés na "rua", decidimos ter como missão caminhar até Nova
Brasília. Pegamos uma trilha bem ao lado da pousada e seguimos até seu término,
no Mar de Fora, uma belíssima praia com uma longa faixa de areia que já
havíamos avistado no dia anterior (fica bem ao lado da Praia da Boia).
Ao
invés de seguir pela areia fofa, preferimos ir andando paralelamente ao horizonte, em
meio à "grama". No caminho, uma elevação rochosa que, claro, eu tive
que subir.
No fim da praia você tem duas opções: subir o Morro do Sabão ou contornar as
pedras rumo à Ponta do Nhá Pina. Decidimos pelo primeiro, e tivemos dois
visuais maravilhosos como presente: um do Mar de Fora, que já havia ficado para
atrás, e outro da Praia do Miguel, nosso destino quando descemos.
Cansado de andar tanto sem um mergulho (não me banhei no Mar de Fora), fiz
questão de pular na Praia do Miguel assim que chegamos. O local, maravilhoso,
diga-se de passagem, estaria deserto se não fossemos nós e um pequeno grupo de
pessoas que encontramos no fim da praia, que acabava em pedras. Tentamos
passá-las, mas, novamente, com a maré subindo e sem conhecer a área, abortamos.
Procuramos alguma trilha via mata que pudesse nos levar a Nova Brasília.
Achamos várias aberturas, mas todas levavam a lugar nenhum. Encontramos apenas
locais de limpeza de mariscos e trilhas aparentemente abandonadas, fechadas
pela mata.

A Praia do Miguel é paradisíaca. Poderíamos perfeitamente ficar o resto do dia
nela, mas não era nossa missão. Nem a de um casal de amigos que fizemos por lá,
o Bernardo e a alemã Katja, que se uniram a nós para pensar em como avançar ao
outro lado. E eis que, após muito vasculhar nas proximidades das rochas,
encontramos uma passagem. Era uma trilha nada bem sinalizada. Por várias vezes
paramos para observar se realmente nos levaria a algum lugar ou se nos faria
apenas perder tempo e energia. Mas fomos recompensados pela teimosia. E após algum tempo mato a dentro, eis que surgiu uma loira na direção oposta.
Nossa felicidade em vê-la e trocar uma rápida ideia com a mulher foi nítida:
estávamos, realmente, no caminho certo. E nele seguimos até o término da
trilha: não na praia, mas ainda sobre as rochas. E tivemos que driblá-las
lentamente. Para os amigos montanhistas e/ou aventureiros, é moleza. Mas não dá
pra dizer que qualquer pessoa possa fazer aquele caminho...

Por fim, chegamos à Praia Grande, a primeira de Nova Brasília. Se fossemos
olhar ao pé da letra, já havíamos cumprido nossa missão. Mas queríamos mais.
Não tanto quanto o casal de amigos que pretendia chegar a Fortaleza. Tínhamos
em mente que o horário já era avançado para ir tão longe (por volta de 2 horas
da tarde). E, ao nos despedir deles, tive, claro, que correr para dar um
mergulho na minha nova praia.
Por lá, observamos um urubu (ou algo parecido) devorando uma carcaça de
tartaruga. É algo nojento. Repugnante para muitas pessoas, mas é a essência da
natureza. Afinal, a cadeia alimentar é parte da vida. Os animais não têm miojos
e yakisobas para se alimentar...
Da Praia Grande (que faz jus ao nome) encontramos uma trilha. Passamos por
algumas pousadas e restaurante e chegamos à Praia de Fora. Outro local
paradisíaco. De lá, já avistamos de perto o famoso Farol das Conchas. E, após
trocar uma ideia com um surfista da região (e dar um mergulho, claro), para lá
fomos.
O farol data de 1870 e foi construído a mando de Dom Pedro II para auxiliar na
proteção do território brasileiro. Para chegar, você pega uma longa escadaria
cimentada e bem sinalizada. No topo, você tem uma visão simplesmente
espetacular.
Gostaríamos muito de ver o pôr do Sol de lá, mas seria impossível
refazer todo o trajeto já percorrido à noite. E descemos, junto, novamente, ao
Bernardo e Katja, que também desistiram de ir à Fortaleza devido ao horário...
Na descida, chegamos à Praia do Farol, local onde já tinha mais gente se
banhando. Avistando a Ilha de Palmas, seguimos nosso lindo trajeto, molhando os
pés à beira-mar entre um banho e outro.
Após cruzar um córrego, lá estávamos nós no istmo. Local privilegiado,
onde você avista tanto a Baía de Paranaguá quanto o Oceano Atlântico aberto, onde, neste lado, a área se chama Praia do Istmo
Se
seguíssemos nesse percurso a leste, iríamos à Fortaleza. Mas não tínhamos tempo
e já havíamos andado demais. Cruzamos o istmo e chegamos à Praia de Brasília, onde
fica o trapiche do bairro.
Dalí pegamos um barco e voltaríamos nele rumo à
nossa pousada, se não fossemos almoçar e tomar umas cervejas no genial Toca da
Ilha, já na Praia de Encantadas, com outro casal que conhecemos em meio a este
longo dia: Paulo e Mariana. Merecidíssimo após os cerca de 7km percorridos
durante o dia...
Em nosso terceiro dia na Ilha, decidimos fazer um passeio de barco. Com a
Dezinha Menina louca para ver golfinhos, partimos nós em direção à "baía
deles". Embarcamos em uma lancha voadeira com um casal e duas agradáveis
senhorinhas, e fomos quicando em meio ao mar.
Contornando a ilha a oeste, fomos avistando as praias do Limão e Cedro, até passarmos pela Ponta D'Oeste, um
local remoto onde não há nem energia elétrica e nem água corrente. Quem vive lá
são alguns pescadores, embora estejam instalados em meio à Estação Ecológica.
O primeiro local em que o barco atracou, após avistarmos a área militar da
ilha, foi a Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres, que seria nosso destino no
dia anterior se tivéssemos mais tempo. Lá, avistamos todo o cenário de canhões
preservados, o paiol e a prisão que lá havia.
Conhecemos, também, a lenda local do homem que sonhou que havia um pote de ouro
escondido dentro da espessa parede (de mais de 1m), um dia foi lá, quebrou e
achou a riqueza. Segundo o barqueiro Rafael, que nos conduziu, foi exatamente
neste local:
Na sequência fomos rumo à Baía dos Golfinhos, onde pudemos ver imagens
encantadoras com os mamíferos subindo para respirar e procurar alimentos.
Atracamos, em seguida, na Ilha das Peças, um local com um trapiche privilegiado
para observar os golfinhos.
Retornando, fomos rumo à indicadíssima Pousada Fim da Trilha, que contém chef
de cozinha e pratos mais refinados. Reservamos nosso prato para a janta, fomos
em nossa "casa" tomar banho e descansar e retornamos para comer,
encontrando todo o grupo que havíamos conhecido na Praia do Miguel no dia
anterior.
Nosso quarto dia na ilha, que começou com chuva, mas felizmente deu trégua,
teria como missão explorar o centro de Nova Brasília. Pegamos um barco até lá,
e nele descobrimos que a viagem seria particular. Éramos apenas eu, Débora e o
barqueiro.
Chegando a Brasília, decidimos avançar até Fortaleza pelo leste, área oposta ao
que havíamos feito via barco um dia antes. E do trapiche, chegamos à nossa já
conhecida Praia do Istmo, e fomos andando, novamente com a Ilha de Palmas ao
fundo. Uma caminhada de 4km em direção à Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres.
Na volta, tudo de novo...
Chegando à Praia de Brasília, onde íamos dar o último mergulho antes de almoçar
no bairro, recebemos um presente espetacular: um banco de areia se abriu em
meio a baixíssima maré que tomava conta do local.
Caminhamos por uns 500m mar a dentro, praticamente reeditando o milagre de
Jesus. Olhando de longe, na posição oposta (e desconsiderando a ciência,
claro), seria fácil de acreditar que caminhávamos sobre as águas.
O cenário era tão deslumbrante que tomou tanto tempo nosso que, quando fomos
olhar o relógio, já não valeria mais a pena almoçar em Nova Brasília. E, quando
fomos caminhando rumo ao trapiche, ouvimos as buzinas do barco. Corremos e,
quando vimos, era o mesmo homem que havia nos trazido. Ele estava nos
esperando, pois, para nossa surpresa, seríamos novamente os únicos no barco.
Fomos e voltamos na hora em que escolhemos e sem mais ninguém na nossa
"nave". Se este é o conceito de viagem particular, acho que, mesmo
sem querer, podemos dizer que alugamos o barco só pra nós...
De volta à Encantandas, o banquete foi no Tata, com panquecas maravilhosas.
À noite, fomos explorar a vida boêmia da ilha. Rumamos ao Bar do Capitão, da
Pousada Bob Pai e Bob Filho. Um lugar genial, muito bem decorado e com
atendimento bastante simpático. Tão bom que só saímos de lá quando fechou.
Acompanhados de um novo casal de amigos: Marujo e Andrea, o fim de noite se deu no Cavalo Marinho, um meio-termo entre bar e boate ao som
de reggae e forró.